Poucas frases resumem tão bem a armadilha emocional das mulheres que amam demais quanto esta: “Se eu sofrer por você, você vai me amar?” É quase um pacto silencioso. Acreditamos que, quanto mais suportarmos, quanto mais nos sacrificarmos, maior será a chance de sermos amadas em troca. No entanto, esse raciocínio além de injusto, nunca funciona. E é justamente isso que Robin Norwood nos mostra neste capítulo tão duro quanto necessário.
O mito do sacrifício
Ao longo do livro, Robin apresenta histórias de mulheres que permaneciam em relacionamentos abusivos, infiéis ou frios. Elas acreditavam que a resistência e o sofrimento as fariam “merecer” o amor do parceiro. Trata-se da fantasia da mártir: quanto mais dor eu aguento, mais eu provo o quanto amo. No entanto, essa não é a realidade.
Lembro de uma passagem marcante em que uma paciente suportava anos de negligência e violência emocional. Ainda assim, ela repetia: “Eu sei que ele vai mudar, porque eu estou ao lado dele. Só eu aguento tudo isso.” Quantas de nós já não pensamos parecido?
Além disso, esse mito do sacrifício é reforçado pela cultura, pelos filmes, pelas músicas e até pela educação familiar. Muitas de nós crescemos ouvindo que “o amor tudo suporta”. Mas até onde vai o suportar e onde começa o se anular?
A lógica invertida do sofrimento
O que Robin revela é que, para a mulher que ama demais, a lógica do amor está invertida. Em vez de buscar parceiros que ofereçam cuidado e respeito, muitas se sentem atraídas justamente pelo desafio de “transformar” alguém impossível. Nesse contexto, o sofrimento se torna prova de amor.
Quem nunca? Insistimos em relações nas quais, lá no fundo, sabíamos que não havia reciprocidade. Mesmo assim, o sofrimento parecia ser combustível. Era como se disséssemos a nós mesmas: “Se eu conseguir resistir a essa dor, vou provar que mereço ser amada.”
O mais cruel é perceber que esse esforço nunca gera o resultado esperado. O outro não nos ama mais porque nos vê sofrer. Pelo contrário, muitas vezes o efeito é o oposto: quem recebe sem dar nada em troca se acostuma com a vantagem.
Onde esse padrão começa?
Norwood mostra que essa busca pelo sofrimento tem raízes antigas. Para muitas de nós, o amor foi associado desde cedo à dor: pais ausentes, relações frias, situações em que o afeto só vinha depois de muito esforço. A partir disso, crescemos acreditando que amor nunca é fácil que é preciso conquistar, esperar, suportar.
Consequentemente, quando adultas, repetimos essa fórmula em nossos relacionamentos. Procuramos homens emocionalmente indisponíveis, acreditando que, se suportarmos bastante tempo, seremos recompensadas. É um ciclo de dor que se repete até que tenhamos coragem de enxergar o padrão.
O preço de viver no sacrifício
Esse capítulo também chama atenção para os efeitos devastadores desse comportamento, pois viver em função de alguém, sacrificando nossas vontades, sonhos e até a saúde, nos leva ao esgotamento físico e emocional.
Além disso, algumas mulheres relatadas por Robin chegaram a desenvolver sintomas graves: depressão, ansiedade, doenças psicossomáticas. O corpo gritava aquilo que a mente se recusava a aceitar: amor não deveria doer tanto.
Caminhos de consciência e libertação
Mas como quebrar esse ciclo? A primeira chave é consciência. Precisamos reconhecer que sofrer não é sinônimo de amar (desculpa aí, Zé Ramalho rsrs). Nenhum relacionamento saudável deve ser construído em cima do sacrifício unilateral. Mas Robin sugere e eu reforço que precisamos inverter a lógica: amor verdadeiro se mede por respeito, reciprocidade e alegria compartilhada, não por dor suportada.
A seguir, compartilho algumas práticas que podem ajudar nesse processo de libertação:
- Escrita reflexiva: pergunte-se “O que eu tenho perdido para sustentar essa relação? O que ganho em troca?”
- Banho de ervas de fortalecimento: alecrim, manjericão e louro ajudam a renovar a coragem e fortalecer a autoestima
- Exercício do espelho: todos os dias, busque olhar nos seus olhos e repita: “Eu mereço ser amada sem sofrimento.” Parece simples, mas cria um novo registro interno
- Pequenos limites diários: pratique dizer “não” em situações cotidianas, para treinar sua capacidade de se preservar
Do sacrifício à responsabilidade afetiva
Esse capítulo nos convida a virar a chave: entender que o amor verdadeiro não exige sofrimento. O que parece romantismo, na verdade, é responsabilidade afetiva.
Se a base da relação é dor, se tudo depende de você abrir mão de si mesma, então não é amor — é dependência. A verdadeira responsabilidade afetiva começa dentro: comigo mesma. É quando eu decido não me colocar mais em posição de sacrifício esperando reconhecimento.
No próximo episódio, vamos falar sobre outra armadilha sutil: “A necessidade de ser necessária”. Mais um capítulo que toca fundo na forma como confundimos amor com dependência.
Até lá, cuide-se e lembre-se: o verdadeiro amor nunca pede seu sacrifício como prova.
Vamos juntas?
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