Se existe um traço que atravessa a vida de muitas mulheres que amam demais é a necessidade de ser necessária. Robin Norwood dedica este capítulo a mostrar como esse padrão se manifesta de formas sutis e devastadoras. Por trás dele, está a crença de que só teremos valor se formos indispensáveis para alguém. E, muitas vezes, esse alguém é justamente a pessoa menos capaz de corresponder ao nosso cuidado.
O que significa “ser necessária”?
Ser necessária, neste contexto, vai muito além de cuidar por amor. É transformar o ato de ajudar em condição de existência. É quando a identidade de uma mulher se confunde com a função de consertar, apoiar ou resgatar o outro.
No livro, Robin traz o caso de uma mulher que se envolveu com um homem alcoólatra. Ele dependia dela para manter a vida minimamente organizada: desde acordar para ir ao trabalho até lidar com crises de saúde. Ela acreditava que, sem ela, ele não sobreviveria. Essa ideia lhe dava uma sensação de importância ao mesmo tempo em que a aprisionava em um ciclo de desgaste.
O fascínio por homens problemáticos
Uma das grandes revelações do capítulo é como mulheres que amam demais tendem a se interessar por homens com dificuldades claras: dependência química, instabilidade emocional, irresponsabilidade financeira.
A lógica é inconsciente: se eu conseguir ajudá-lo a mudar, provar minha dedicação e suportar sua dor, então serei amada. Ser necessária, nesse caso, substitui a sensação de ser desejada.
Uma das personagens citadas por Robin dizia: “Eu me sinto viva quando estou resolvendo os problemas dele”. Mas, no fundo, ela vivia exausta, sem espaço para si mesma.
Por que precisamos tanto ser necessárias?
Robin explica que, na infância, muitas dessas mulheres assumiram papéis de adultas antes do tempo. Filhas de pais dependentes, violentos ou ausentes, elas aprenderam a sobreviver cuidando dos outros. Tornaram-se pequenas mães de seus próprios pais, irmãos ou até da própria mãe.
Assim, cresce dentro delas uma identidade: “sou valiosa porque cuido”. E quando adultas, repetem o mesmo papel nos relacionamentos amorosos. Procuram homens frágeis, problemáticos ou caóticos, porque sentem que ali têm espaço para se afirmar como essenciais.
O preço invisível desse padrão
O problema é que, ao viver para ser necessária, muitas mulheres deixam de existir para si mesmas. A vida gira em torno do outro: suas crises, seus problemas, suas necessidades.
No livro, uma mulher relatava que passava noites em claro vigiando o parceiro para que ele não bebesse demais ou não saísse de casa em crise. A exaustão era tanta que ela adoeceu. Ainda assim, não conseguia se afastar, porque acreditava que, se deixasse de cuidar, ele iria se perder — e então ela perderia sua razão de ser.
Esse é o efeito mais cruel: a dependência afetiva se disfarça de compaixão, mas é prisão.
O cuidado que sufoca
Outro ponto importante do capítulo é a diferença entre cuidar e controlar. Muitas vezes, a necessidade de ser necessária leva ao controle disfarçado: vigiar, monitorar, decidir pelo outro, assumir responsabilidades que não são nossas.
No fundo, esse controle não é sobre o bem-estar do outro, mas sobre a nossa necessidade de sentir que temos um papel indispensável. Robin lembra que esse movimento sufoca tanto quem cuida quanto quem é cuidado. Não há espaço para autonomia, nem para relações saudáveis.
Quando o amor vira missão
Em várias histórias do livro, vemos mulheres descrevendo seus relacionamentos como verdadeiras missões de resgate. O amor deixa de ser encontro e se transforma em tarefa. “Se eu desistir dele, quem vai cuidar?”, perguntavam.
Mas essa missão nunca tem fim. Porque o outro não muda pela dor ou pela insistência do cuidador. Muda apenas quando decide mudar. E é nesse ponto que muitas mulheres percebem o vazio: anos investidos em salvar alguém, e o que recebem em troca é ingratidão, abandono ou mais dor.
Caminhos de libertação
A pergunta que o capítulo provoca é: como romper com essa necessidade? Robin Norwood sugere um movimento de olhar para dentro. Deixando de buscar no outro a validação que precisamos dar a nós mesmas.
Algumas práticas que podem apoiar esse processo:
- Escrita reflexiva: anote situações em que você assumiu responsabilidades que não eram suas. Pergunte-se: “Quem eu seria sem esse papel?”
- Banho de ervas de autovalorização: manjericão, alecrim e rosas ajudam a trazer força e lembrança do próprio valor.
- Prática do autocuidado: reserve um tempo semanal só para você , mas sem cuidar de ninguém, apenas se nutrindo.
- Afirmações: repita diariamente: “Meu valor não depende do quanto eu cuido dos outros. Eu sou suficiente por ser quem sou.”
Por fim, este capítulo mostra o quanto a necessidade de ser necessária é, na verdade, uma prisão dourada. Parece altruísmo, mas muitas vezes é medo de não ter identidade fora do papel de cuidadora.
O convite é a perceber que amor saudável não exige que você seja imprescindível, mas que você seja inteira. Sendo assim, relações de troca, e não de dependência.
No próximo episódio, vamos para um tema que mistura dor e convite à leveza: “Vamos Dançar?”. Um capítulo onde os dois lados amam demais e vivem o que a autora chama de dança, em que os movimentos não chegam a lugar algum.
Até lá, lembre-se: você já é suficiente, mesmo quando não está salvando ninguém.
Vamos juntas? 🌱
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